AMORES PAULISTANOS- SEGUNDO ENSAIO

# UM CERTO ESBOÇO #


VOZ OFF PEREIO – INTERCALANDO COM O SOM AMBIENTE E O DIALOGO REAL.

Pode ser que seja só uma nova forma de selva galgando para os limites que antecedem a ruína de todo Império. Pode ser que seja tão somente o avesso da engenharia do corpo humano aonde trocaram as veias por fios elétricos, as vozes por buzinas, os sonhos por lâmpadas, as doenças pela violência, o sangue por água encanada...

ELE É QUASE ATROPELADO POR UM CARRO QUE PASSA BUZINANDO. ACOMPANHAMOS O CARRO QUE SEGUE E ENTRA NUMA RUA. A CAMERA FICA NUM CAFÈ QUE EXISTE NA RUA.
LÁ ESTÁ ELA E A AMIGA AS DUAS CONTINUAM CONVERSANDO.
CHEGA OUTRA AMIGA.
ELAS PARACEM CONTENTES QUE ESTÃO REUNIDAS.
TOCA O TELEFONE .ELA FALA NO TELEFONE.

VOZ OFF PEREIO :
Pode ser tantas coisas essa paisagem que prende aquela mulher ali, sentada num café, rindo para suas amigas como se não houvesse a menor chance de surpresas.
Pode ser que trocaram no mapeamento do espaço físico que sustenta aquele homem em pé, prestes a cruzar mais uma rua da vida, os olhos por semáforos, que quando piscarem, vão mudar a cor de tudo que ele vinha sentindo até chegar ali, a poucos metros do café e do sorriso que ele tão bem conheceu e esqueceu.

ELE ESTA A POUCOS METRO DO CAFÉ PARECE PENSATIVO E INTROSPECTIVO.
ELE PARA OLHA PARA O SINAL.
OLHA PARA AS NUVENS.
CAMERA VOLTA PARA CAFÊ MOSTRANDO A SITUAÇÃO DELA E DAS AMIGAS DE NOVO
QUE ELE ESTA MUITO PERTO DA ONDE ELA ESTA.
ELA FALA COM AS AMIGAS QUE VAI SAIR .
ELA SAI PARA A CALÇADA

VOZ OFF PEREIO :
Ela paga a conta, despede-se das amigas e pisa na calçada.
O semáforo libera os pedestres daquela tarde para atravessarem a falta de controle sobre seus destinos e algo incomum acontece.

ELA SEGUE A CALÇADA
ELE TRAVESSA A RUA
ELES SE VEEM.
O BARULHO SE TORNA UM SILENCIO CONFORTAVEL, COMO SE UM MUNDO NOVO SONORO SURGISSE, AONDE O SONHO E A REALIDADE SE MISTURASSEM
VOZ OFF PEREIO:
O mundo esvazia-se de barulhos. A cidade mergulha num silêncio sem precedentes mas o resto do gosto de sorriso e café na boca dela não a deixa atentar para essa repentina quietude. Ele, mais preocupado em não perder tempo para chegar a lugar nenhum, olha sem enxergar para os nuvens amontoadas sobre sua cabeça e chega a pensar, sem se dar ao luxo de estranhar, que elas engoliram, graças a Deus, aquele ruído infernal de gente se esbarrando.

FLASH RAPIDOS DOS DOIS, VARIAS SENSAÇÕES. MISTURANDO O QUE É REAL, O QUE É DE CADA UM, AS LEMBRANÇAS. IMAGENS EM SLOW PEGANDO A REAÇÃO CORPORAL DE CADA UM NESSA PRIMEIRA VISÃO COMO SE ALI FICASSE CLARO UM NOVO TEMPO, UM NOVO RITMO.

SOM COM CORTES SECOS E DESCONTINUOS.

SOM AMBIENTE CRESCE.

VOLTAMOS A PERCEBER O BARULHO DA CIDADE QUE SUFOCA, AS REFERENCIAS EXTERNAS, OS COMPROMISSO E A REALIDADE.
O TEMPO REAL .
AONDE ERA O COMEÇO DELE ERA O FINAL DELA.E VICE VERSA.
NADA ALI PODERIA TIRAR ESSE DESTINO.
NO MEIO ELES TINHAM QUE SE ENCONTRAR. FOI O QUE FIZERAM.

SEGUIRAM PARA O CAMINHO DE SUAS VIDAS, SEUS COMPROMISSOS. POIS ALI NO REAL.ELE NÃO ERA MAIS DELA.E ELA NÃO ERA MAIS DELE.
E TAMBÉM NÃO SABIAM SE QUERIAM SER UM DO OUTRO, TANTO O QUANTO JÁ FORAM.
TALVE ELE SO TENHA IDO DORMIR SENSÍVEL E ELA DESPERTOU ASSIM .
NÃO SABIAM DE NADA.
MAS TAMBÉM NÃO BUSCARAM SABER, NISSO CONCORDAVAM, PREFERIAM ASSIM.
POIS VOCÊS SABEM A CIDADE TEM DESSAS COISAS.....
NUNCA SE SABE, QUEM SE PODE ENCONTRAR.


DURANTE O CAMINHO ELES DISCUTEM EM OFF.
(FALA TELEPTICAMENTE, VISIVEIS EM AÇÕES CORPORAIS)

ELES
-Mas o que você queria?
-Eu não sei. Eu nunca sei.
-Parecia tudo tão bem.
-As coisas parecem...
-Elas são.
-São o quê?
-Eu sabia.
-O quê?
-Que a gente teria essa conversa ridícula um dia.
-Ridícula?
-Não dá pra só tomar um banho e continuar?
-Acho que não.
-O que falta?
-Nada.
-Então?!
-Será que a gente não precisaria que faltasse?
-Isso é estupidez.
-Ficar sem isso é estupidez.

ELE SE APROXIMA DELA, ELA SE APROXIMA DELE. OS DOIS SE OLHAM, SE FALAM . DIALOGO RAPIDO SOBRE A VIDA E SE DESPENDEM SEM TROCAREM UM BEIJO E SEM OLHAR PARA TRÁS.
NÃO FOI SECO, NÃO FOI RUDI FOI APENAS ESTRANHO.
ELE SEGUE O SEU CAMINHO NO COMEÇO DELA E ELA AO CHEGAR NO SEU FIM, OLHA A NUVEM QUE TANTO LEVOU ELE AO SONHOS NO SEU COMEÇO .